De quando em vez, eis que somos constrangidos a “ser” felizes, porque convencionou-se que em algumas épocas do ano “temos” que ser alegres e felizes, como no carnaval, por exemplo. Mas que alegria estão nos “impondo”? Esse conceito, como o de felicidade, varia segundo o nível evolutivo de cada um, e forja a escala de valores que determinam cada escolha individual, sobretudo nas horas muito importantes de transição moral da Terra e de seus habitantes, como nos informa o Espírito Manoel Philomeno de Miranda1. Os que estejam na faixa do exclusivo prazer sensível e sensual nessa época encontram, com o “aval social”, encorajamento para entregar-se às “alegrias” de superfície e de “consenso”, próprias desses dias. Mas logo descobrem que tais ilusões trazem decepções, e até tragédias pessoais e coletivas. Leitura obrigatória nessa época é Nas fronteiras da loucura, de Manoel Philomeno de Miranda2.
A alegria foi considerada por muitos fi lósofos como uma das “paixões da alma”, contrapondo-se à tristeza, mas não necessariamente à dor. Para Santo Agostinho trata-se de um estado da alma em que esta se encontra “preenchida”; Descartes disse que a consideração do bem presente suscita em nós a alegria, e a do mal, a tristeza, quando não se trata de um bem ou de mal que não é representado como pertencente a nós3. Já Spinoza defi ne a alegria (laetitia) como “a paixão mediante a qual a mente passa a uma perfeição maior” e a tristeza “a paixão pela qual ela passa a uma perfeição menor”4. Leibniz lembra que a alegria é um estado em que predomina em nós o prazer, pois durante a mais profunda tristeza e em meio às mais amargas angústias se pode experimentar algum prazer, como beber ou escutar música, embora o desprazer predomine; e assim, também em meio às mais agudas dores, o espírito pode encontrar-se em estado de alegria, como acontecia com os mártires.
Filósofos contemporâneos tendem a acompanhar Bergson, que considera a alegria como um anúncio de que a vida alcançou o seu propósito e a sua vitória, e Vladimir Jankélévitch, para quem a vida não tem limites, porque, como o amor, quer sempre ir mais além. Essa postura existencial-espiritualista contrapõe-se às “alegrias” dos dias carnavalescos, que buscam o artifi cialismo e a superfi cialidade dos comportamentos, afastados dos altos sentimentos, descambando para a satisfação da sofreguidão dos instintos. Essa inscrição da alegria no campo da moral provocou alguns debates sobre a função ou ausência de função da alegria na vida moral. Para Max Scheler, a alegria é fonte e necessário movimento concomitante, posto que não é um fim em si mesmo, mas acompanha a vida moral.
Jesus assinalou isso categoricamente, em Seu Evangelho, que é alegria, e afirmou que a Sua alegria é fazer a vontade do Pai6. Em algumas traduções, o uso de “alimento”, em vez de “alegria”, alinha-se no campo da psiconeuroendocrinoimunologia, que está comprovando que esse tipo de alegria engendra saúde. Portanto, sem a consciência do sujeito moral, as alegrias fúteis próprias das solicitações, divertimentos e festas do mundo, como o carnaval, são “alegrias”, fumaça de ilusões que logo se esvai, geralmente em um lastro de tristeza, depressão, e até de enfermidades fatais e outros tipos e tragédias. Kant considera que o agir por amor ao dever e, em consequência, por puro respeito à lei prevaleça sobre qualquer outra consideração, incluindo a felicidade, e, com esta, possivelmente também a alegria. Mas não é preciso eliminar as duas últimas, porque a virtude, a felicidade, a alegria estão incluídas no sumo bem, ainda que a ele subordinadas. Num sentido existencial de alegria pode-se dizer que Kant chegou a admitir uma forte possibilidade de que a obediência à lei por um sujeito moral comporte uma “plenitude” que se parece muito com a verdadeira alegria. Como dito por Neemias: “(...) a alegria do SENHOR é a vossa força.
Muitos argumentam que seguem a fi losofia de Epicuro: o prazer é o supremo bem, mas ele quer dizer que o homem não deve abandonar-se às voluptuosidades fáceis, e que a felicidade é a recompensa da sabedoria, da cultura do espírito e da prática da virtude. Para ele, cabe ao homem admitir os prazeres, favorecer os naturais mas não necessários, e fugir dos que não são naturais nem necessários. Assim cai por terra esse argumento, tão lembrado na época do carnaval e de outras festas mundanas ou tornadas mundanas pela voluptuosidade do homem.
Joanna de Ângelis lembra que o homem não está impedido de “(...) vivenciar as alegrias transitórias das sensações e das emoções de cada momento, (...) [pois] qualquer castração no que diz respeito à busca de satisfações orgânicas e emocionais produz distúrbio nos conteúdos da vida. (...)”8; “A busca do prazer, em razão das necessidades mais imediatas e dos gozos mais fortes, tem sido dirigida para os divertimentos: os alcoólicos, o sexo, o tabaco, quando não as drogas aditivas e perturbadoras. Esses ingredientes levam a diversões variadas, extravagantes, fortes, mas não ao verdadeiro prazer, que pode ser encontrado em uma boa leitura, em uma paisagem repousante, em uma convivência relaxadora, em uma caminhada tranquila, ou em um jogging, em um momento de refl exão, de prece, numa ação de socorro fraternal, em uma recepção no lar proporcionada a alguém querido ou simplesmente a um convidado a quem se deseja distinguir...”9 “Quanto mais divertimentos, mais fugas psicológicas, menos prazeres reais. (...) As pessoas divertidas parecem felizes, mas não o são. (...) [são] afl itos-sorridentes, (...)”10. “No dicionário do pensamento cristão sucesso é vitória sobre si mesmo e sobre as paixões primitivas. (...) O sucesso sobre si mesmo acentua a harmonia e aumenta a alegria do ser, (...)”1
E o Mentor Espiritual Hammed nos lembra e aconselha12: “É muito bom vivenciar a alegria de encontrar o “tesouro escondido no campo da própria alma”13, isto é, reconhecer o Si-mesmo, a mais profunda realidade – a “vontade de Deus”, que sustenta, resguarda e inspira o ser humano a progredir de modo natural e sensato. (...) Quando nos identifi carmos com o Criador, a alegria passará a ser presença marcante em toda e qualquer de nossas atitudes.”
Fonte: http://www.portaliceb.org.br/wordpress/wp-content/uploads/2013/02/RCE_FEV2013.pdf
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