NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA
Data da reunião: 21/03/2018
26. CONSIDERAÇÕES E
PREPARATIVOS
Após o choque anímico do
primeiro atendimento à Ricardo, este passou a ter sensações mais agradáveis. No
momento em que recebeu os fluidos salutares de Jonas, experimentou uma rápida
desintoxicação, que modificou a densa psicosfera em que se encontrava.
Há muito tempo não
experimentava tais sensações agradáveis... a hostilidade contra Julinda, a
esperança do retorno ao plano físico e a decepção causada pelo aborto provocado
geraram choques violentos, perturbando-o imensamente.
“Habituava-se
à alimentação, igualmente venenosa, que absorvia da sua hospedeira na
ultriz(vingadora) obsessão. Acompanhara-a, desde cedo, e maltratara-a,
perturbando-lhe o equilíbrio por largos anos.”
Os méritos espirituais e o
amor de D. Angélica, tanto quanto a ternura e afeição de Roberto, o marido,
formaram uma proteção fluídica que detinham os dardos mentais do adversário
invisível.
Ricardo ainda perturbado
temia perder a presa e retorna ao apartamento de Julinda, no hospital. Percebeu
que ninguém é bom juiz em causa própria, tampouco é senhor absoluto do próprio
destino...
A revolta do obsessor era
porque Julinda e ele, estavam recebendo Divino Auxilio da Espiritualidade
Superior, e não da forma que ele gostaria.
Pensava que ainda ouviria
Elvídio e combinariam novo plano, mas sentia-se tão cansado.
O choque anímico decorrente
da psicofonia controlada, fez com que entrasse em sono profundo, de
reminiscências desagradáveis impressas no períspirito, devido a descontrole de
paixões inferiores.
Revivia, naquele momento,
acontecimentos pretéritos, trazendo clichês mentais há muito arquivados. Mas
tudo isto fora previsto pelo Benfeitor a fim de se produzir uma purificação
inconsciente, para a futura libertação psicoterápica.
Ao término da sessão
mediúnica para os encarnados, os Espíritos permaneceram trabalhando em suas
áreas de ação: equipes encaminhavam os que foram socorridos ao Subposto de
emergência, a fim de tratá-los nas Colônias de socorro próximas da Crosta.
Manoel Philomeno observa que
no decorrer das horas, a Instituição Espírita era visitada por pessoas de ambos
os lados da vida, que vinham receber atendimento, apresentar solicitações e
servir.
“Realmente,
o sono fisiológico, facultando o parcial desprendimento do Espírito, não deixa
de ser um exercício para a desencarnação.”
Poucos os encarnados que
recordariam das atividades desenvolvidas naquele período de “morte da consciência
cerebral”.
Pouco depois da meia noite
Philomeno observa Jonas, o médium, chegar à Instituição, assistido por Genézio,
que o fora buscar, facilitando o seu deslocamento.
Jonas era médium dedicado e
abnegado, vivenciava a Doutrina Espírita. Aos 45 anos, o médium esplendia
juventude física, sem mostrar desgaste ou cansaço na máquina fisiológica.
“Transpirava paz no
semblante jovial, sem contrações deformantes, ao mesmo tempo denotando madureza
e responsabilidade.”
Miranda percebeu que ele não
era casado, nem tinha filhos e não demonstrava interesse maior em compromissos
matrimoniais, desta forma apresentava-se mais livre e despreocupado.
Genézio esclareceu que Jonas
reencarnara com graves compromissos no campo da afetividade, relativo a
experiências passadas.
O sexo é departamento
divino, devemos utiliza-lo com objetivos de elevação, da mesma forma toda nossa
organização fisiológica deveria ser utilizada para a nossa evolução e não
queda.
“Bem
poucos, temos sabido valorizar a sexualidade com o respeito e a compreensão que
merece. Não poucas vezes, temos derrapado, lamentavelmente, no exercício das
funções genésicas, transformando-lhes o uso enobrecido em abuso degradante...”
Jonas vem de experiências, recentes,
no sacerdócio católico, mas apesar do grande amor por Jesus, não conseguia
superar sua viciação na área sexual; duas vezes reencarnou com o compromisso de
servir, para elevar-se moralmente. Poderia ter formado família, porém decidiu
eleger-se ao celibato religioso, disciplinando-se na castidade... Mas suas
imperfeições pretéritas eram muito fortes e negativas e, sucumbia as viciações
sexuais. Ele não possuía força moral suficiente
para assumir a responsabilidade que lhe competia, consorciando-se,
como seria o normal, deixou-se levar de erro a erro, piorando cada vez mais a
sua situação.
“Despertando,
em definitivo, no último retorno, e inteirando-se das bênçãos que ‘O
Consolador’ esparzia, na Terra, rogou treinamento e oportunidade para volver,
em serviço de redenção, na mediunidade espírita.
Portador de outros títulos de enobrecimento, foi encaminhado a reencarnação sob
recomendações especiais para manutenção do EQUILÍBRIO,
a DISCIPLINA DA VONTADE e a CORREÇÃO DA CONDUTA...”
Naquele momento Jonas
recebia instruções do Dr. Bezerra para a continuação dos trabalhos...
E Genézio concluiu: “Jonas
solicitou a provação da soledade (solidão), a fim de SUPERAR-SE. Desejou
fazer-se eunuco, conforme o conceito evangélico... É certo que um matrimônio
digno, em que a comunhão pela sexualidade não se tresvaira, não deixa de ser
uma união casta, pela superior conduta que os cônjuges se facultam. Ele, porém,
desejava a superação dos antigos condicionamentos, renascendo para uma
oportunidade nova e definitiva de crescimento íntimo.”
Começou seu treinamento
mediúnico na erraticidade experimentando os aguilhões que o levariam ao
exercício do dever reto.
“A
Terra é o campo de lutas e de aprendizagem, no qual a dor exerce função
significativa.”
“O
terreno do progresso está assinalado pelas dificuldades e os problemas se
multiplicam a cada passo.”
Jonas tem recebido agressões
de todos os lados: adversários do bem, adversários pretéritos espirituais que
perseguem-no através de encarnados invigilantes, em tentativas infrutíferas de perturbação
e queda.
“Almas
queridas se acercam, restabelecem-se os vínculos da afeição, que ele vai
transformando, ao largo do tempo, em amor fraternal, trabalhando os próprios
sentimentos com SILÊNCIO E RENÚNCIA, assistência aos que sofrem e orações, exercitando
a vigilância e a alegria de viver...”
Jonas, por esforçar-se no
bem, sendo um fiel servidor de Cristo, granjeia amigos espirituais;
simpatizando consigo o auxiliam sempre, em todos os momentos.
“Ninguém
transita numa praça de guerra em pleno combate sem sofrer, ao menos a
perturbação da fuzilaria alucinante, quando não se torna vítima de projéteis
certeiros ou petardos danosos. Nesse clima, porém revelam-se os verdadeiros
heróis.”
Bezerra convida Philomeno
para se informar do que ocorrerá no atendimento de Ricardo e Julinda, relativo
a problemática obsessiva, que exige cuidados especiais, verificando-se que foi
estabelecido um vínculo fluídico entre Jonas e
Ricardo, no momento da psicofonia. Naquela noite, o atendimento espiritual, no
momento do sono físico de Jonas, seria mais profundo e indispensável. Ricardo,
impregnado com os fluidos energéticos de Jonas, dorme, o que facilitará o
processo de terapia desobsessiva.
Desta forma, Bezerra e seus
assistentes retornaram ao apartamento de Julinda, no hospital psiquiátrico. Dr.
Artur Figueiredo também participaria das atividades, da mesma forma que o pai
de Julinda, Juvêncio, a mãe Angélica e o marido Roberto.
Os colaboradores de Elvídio
que guardavam o apartamento nem notaram a presença dos Benfeitores; Julinda
repousava prostrada sob efeito de fortes medicamentos.
Ricardo estava agitado,
ainda pelo choque anímico... mas com a fluidoterapia de Bezerra tranquilizou-se
entrando em sono profundo.
Retornaram todos à
Instituição sob uma cortina vibratória que os tornava invisíveis aos guardas de
Elvídio.
Na ausência do grupo,
Genézio e outros cooperadores preparavam a reunião, através de leitura do
Evangelho Segundo o Espiritismo, consolidando o ambiente psiquicamente, para
recebe-los e iniciar a tarefa de desobsessão.
Os pacientes, Julinda e
Ricardo, e Angélica e Roberto, não perceberam no momento o que acontecia.
Bezerra esclarece que aquele
trabalho poderia ser executado durante as atividades habituais da Casa
Espírita, com a participação dos trabalhadores da mediunidade, mas diante da
necessidade de irem as causas mais profundas daquela problemática obsessiva,
acreditavam ser melhor não utilizar os trabalhadores em vigília, pelo fato da
excessiva distração dos encarnados, do cansaço que os toma, inclusive ao sono
que se entregam sem o desejarem.
O Benfeitor nos informa da
invigilância dos trabalhadores da mediunidade, onde se deixam levar pelo torpor
mental, que os induz a sonolência. Tombam por desinteresse da tarefa,
estabelecendo ligações com mentes perversas que os bloqueiam impedindo-os de
aprender e servir e, muitas vezes atrapalham os trabalhos de socorro.
Bezerra ainda esclarece da
responsabilidade do trabalhador, consciente da significação daquele labor
espiritual, manterem-se atentos e vigilantes; descansando fisicamente e
mentalmente um dia antes da reuniões mediúnicas.
Miranda prestava atenção nos
companheiros que fariam parte daquele atendimento, estavam relativamente
lúcidos, não obstante as limitações naturais em experiências no desbobramento
físico.
Dr. Bezerra esclarece que
estão diante de um grupo mediúnico de desobsessão, portador de qualidades
superiores graças ao conhecimento espírita de que os seus membros se fazem
possuidores, da mesma forma sua dedicação ao bem.
O Mentor ainda nos diz que
devemos ter muito cuidado com nossos pensamentos, porque depois das reuniões
dedicadas ao serviço de amor e caridade, nós nos deslocamos mentalmente aos
pensamentos desagradáveis, somos absorvidos por outras áreas de interesse e
ficamos invigilantes.
Assim, são poucos os
trabalhadores que podem ser utilizados em serviço de tal porte, durante o
desdobramento do sono físico.
A televisão traz as nossas
casas, altas cargas de informações deletérias, com mensagens negativas. Quando
desligadas, nem sempre o telespectador se desliga daquelas informações e,
durante o sono, agita-se podendo trazer sérios distúrbios ao seu equilíbrio e a
paz pessoal.
“Seria
ideal que os cooperadores encarnados, após o encerramento dos trabalhos
mediúnicos se mantivessem, quanto possível, no clima psíquico que fruíram
durante a reunião, meditando no que ouviram, digerindo mentalmente melhor as
comunicações, incorporando aos hábitos as lições recebidas, orando... Tal
atitude, que lhes será sempre de alto alcance positivo, ajudar-nos-á a
contribuir para que se melhorem moralmente por prosseguirem em ação edificante
e aprendizagem, no desdobramento que os compromissos espirituais a todos
facultam.”
Bezerra profere a prece de
abertura para o início dos trabalhos.
27. MERGULHO NO PASSADO
Todos estavam concentrados
no propósito superior de auxílio naquela problemática obsessiva, algo inverso
da visão imediatista das criaturas encarnadas.
Para o grupo o drama mais
dolorido era o de Ricardo, que fora martirizado por consecutivas aflições e
desconforto. Ele padecia da loucura vingativa e necessitava de atendimento
urgente.
Ele e Julinda estavam
colhendo exatamente o que semearam; para libertar Julinda era necessário
libertar primeiro Ricardo.
O Mentor, com uma oração
ungida de amor, transfigurou-se e esclareceu todo o grupo quanto as finalidades
especiais daquele trabalho.
Alertou da necessidade de:
·
Controlar nossos pensamentos e não julgar antecipadamente;
·
Sempre guardar uma postura íntima de piedade
cristã em relação ao próximo;
·
Quando o amor sem fronteiras nos comanda o
raciocínio, sempre acertamos no bem.
“Todos
somos necessitados do auxílio do Senhor, seja qual for a faixa evolutiva em que
transitemos. Desse modo, auxiliemos!”
Bezerra aplica passes em
Julinda, dispersando de seu períspirito fluidos pesados e substancias
antidepressivas que a anestesiavam, mantendo-a em sono profundo. Juvêncio
realizava o mesmo processo em Angélica, que despertou quase de imediato.
A viúva despertou e tentou
descobrir onde estava, quase lúcida identificou o marido desencarnado, que a
abraçou com ternura e a informou que estavam reunidos naquele momento por conta
de suas preces, com o propósito de socorrer a filhinha querida.
E que aquele que perturba
Julinda, merece o igual afeto de que é dedicado a ela... “acautelemo-nos contra
o favoritismo pessoal em detrimento da afeição generalizada...”
Roberto também fora
despertado para participar da sessão. Ele acordou lentamente, sem saber onde
estava. Identificou a sogra com certa dificuldade e fora apresentado ao sogro,
pois não o conhecera no plano físico.
As qualidades morais
positivas daqueles encarnados favoreciam com o equilíbrio necessário para
aquela atividade.
Julinda despertou muito
perturbada, com fixações mentais negativas que assumiam o caráter de pavor!
Pensou que Bezerra fosse um severo juiz!
Em pranto rogava o perdão,
como se estivesse sendo julgada (era a sua consciência!).
Com passes na região coronária
e no epigástrio, a envolveu com energias positivas, deixando-a tranquila e
abstraída do ambiente e dos que lá estavam.
Agora era a vez de Ricardo
despertar! Ainda agitado, mas consciente que estava sob controle, começou a
ameaçar o grupo. Um misto de sentimentos o dominavam: revolta, decepção, mágoa,
desespero e desejo de vingança.
Intitulou-se vítima e queria
fazer a sua justiça!
Bezerra em silêncio,
mantinha-o sob ação psíquica, não controlava suas palavras, mas impedia-o de
atitudes precipitadas ou inconvenientes.
O Benfeitor falou-lhe com
serenidade:
“Somos
todos vítimas...de nós próprios. Os nossos mapas de ação apontam mais rumos
infelizes do que roteiros de acerto.”
O ódio maltrata aquele que o
gera e a vingança é algoz oculto que vence quem a cultiva e estima.
Bezerra o convida a
estudarem juntos as causas dos males que o afetam, assim como os desafetos e
buscar soluções para a felicitação de todos.
O Mentor esclarece que todos
estamos em constante aprendizado para evolução e, que desejam apenas auxiliá-lo
e ampará-lo, no propósito da paz e edificação da felicidade geral.
Ricardo recebia os fluidos
psíquicos do Mentor e aquietou-se, mas com o semblante de rancor e sofrimento.
Jonas sentou-se numa cadeira
isolada, a frente de um semicírculo e colou-se em atitude de concentração
profunda.
Entram na sala dois
cooperadores, trazendo numa maca um espírito desesperado, com forma
perispiritual gravemente afetada, com caracteres simiescos, similares com um
chimpanzé.
O médium sentiu um certo
mal-estar por conta do desequilíbrio psíquico da Entidade, que emanava cargas
escuras de seu períspirito.
Através da sintonia fluída,
houve o magnetismo e a transfiguração atormentada, através do médium, que
retratava fielmente o que o Espírito experimentava.
Era a oportunidade de
amenizar as aflições daquele irmão sofredor.
O períspirito de Jonas,
através da transfiguração, passou a apresentar os caracteres deformados; era
uma cena constrangedora, na sua exteriorização grotesca.
Identificaram a zoantropia (é o fenômeno em que espíritos desencarnados devotados ao mal
se tornam visíveis aos homens sob formas de animais) num Espírito que
veio de uma encarnação masculina.
“Os
olhos avermelhados, miúdos, moviam-se nas órbitas da organização mediúnica, e
os braços alongados, balouçavam em movimentos desordenados. A boca larga,
descomunal, numa face típica dos macacos, babava, denotando estado avançado de
ferocidade.”
Julinda e os demais de seu
grupo familiar não percebiam a ocorrência. Mas Ricardo estampava na face o semblante
do horror!
Bezerra exalava amor, agia
com calma e segurança, para que a comunicação ocorresse sem danos para o
trabalhador encarnado, portador de grandes qualidades de sacrifício pessoal.
A transfiguração estava
completa, não se sabia se Jonas se acoplara ou se fora o inverso. O Mentor
apiedado falou: Seja bem-vindo irmão querido, seu martírio começa a
diminuir...anunciando-se próximo o seu termo.
A Entidade que perdera a
faculdade da palavra registrou o pensamento, mas não entendeu a frase...sentiu
uma enorme angústia.
E o Mentor continua: Os longos
anos de sofrimentos cessam e ressurges como o dia em triunfo...após a noite
densa.
Bezerra fala ao sofredor que
a misericórdia divina alcança a todos, mesmo quando nos envolvemos no abismo do
ódio irracional. Foi o que acontecera com ele!
“Hoje iremos recordar, pela última vez, toda a tua tragédia, a fim
de que a esqueças, abençoando-a com o perdão.”
O Espírito reagiu com a
fúria e desconcerto inicial, contido pelo psiquismo do médium e pelo controle
mental de Bezerra.
Concentrado na ideia de
ódio, que fora o agente daquela situação dolorosa, por longos anos, deformou o
próprio períspirito conforme a aspiração íntima que acalentava.
“O
desejo irrefreável de vingança, a alucinação decorrente da sede de desforço não
logrado respondiam pelo auto -supliciamento que ele a si mesmo se impusera.”
A troca de fluidos
perispirituais, naquela manifestação mediúnica, de Jonas e da Entidade, onde os
seus períspiritos se afinizaram, fizeram com que o períspirito do sofredor se
remodelasse, preparando-o para a próxima reencarnação e, equilibrava as suas
reações.
“(...)Nesta
nova oportunidade, o perdão substitui o ódio e o amor sobrepõe-se a vingança.”
Bezerra esclarece que quem o
feriu também sofre, e sem paz, vive na loucura, cobrando outros e
acreditando-se vítima.
“Chega
o momento de interromper-se a cadeia sucessória da loucura que odeia e malsina.”
“A
vida é amor...”
A Entidade de olhos
avermelhados estava colérica!
Os participantes da equipe
estavam em perfeita comunhão mental de propósitos e irradiavam amor e ternura,
simpatia e piedade.
Ricardo disse que iria
retirar-se e Bezerra sinalizou para que os cooperadores ficassem atrás dele, em
suas costas, vigilantes.
Ao som da voz de Ricardo, o
comunicante ergueu o médium e olhou para todos até que pudesse identificar quem
falava.
Era um exemplo de
transfiguração tormentosa, porquanto o médium ‘desaparecera’ para dar lugar a
Entidade.
Miranda alerta que se o
grupo não estivesse preparado para a cena rude, proporcionaria pavor e repulsa.
Era um irmão, que pelo
excesso de desespero, desfigurou-se assumindo uma forma perispirítica dantesca.
A flechada de ódio da
Entidade chegou até Ricardo, mas Bezerra controlava todo o ambiente.
“Que
tem esse animal contra mim?” Perguntou Ricardo.
Bezerra esclarece que aquele
animal, era um irmão que fora vítima de suas ações maléficas, em passado não
muito distante...
Ele que se acreditava vítima
de Julinda, esquecia das pessoas que havia deixado tombadas pelo caminho.
“Não
tenho relacionamento com bichos, especialmente com esses que se entregam aos
Falcões(*) ...recordo-me somente do mal que me fizeram.”
Bezerra diz a ele que quem
prejudicou sempre esquece a dor do prejudicado. Mas o vínculo do sentimento,
seja ele bom ou ruim, jamais cessa.
O Benfeitor disse que não
está na posição de juiz, é um companheiro de luta, em nome da fraternidade para
o exercício do amor, conforme os ensinamentos do Cristo.
Ainda diz a Ricardo que ele
não poderá fugir da verdade nem da justiça; quer justiça para Julinda, mas foge
das suas próprias dívidas.
“Este
é o teu momento na estrada de Damasco da tua redenção. Qual Saulo, invigilante
e enlouquecido, defrontas Jesus, simbolizado no amor, que deve renascer em ti
mesmo, para a glória do teu bem e da tua paz.”
Nesse momento, através do
psiquismo de Bezerra, Ricardo mergulha nas lembranças pretéritas...
O irmão zoantropiado era
assistido por Genézio e outros dois cooperadores.
Julinda era amparada por
Juvêncio e Angélica, que orava fervorosamente. Angélica, habituada à oração,
facilmente preservava a paz, sintonizando com faixas elevadas da vida.
O Mentor continuou com a
indução hipnótica... Bezerra propôs que recordassem os primeiros dias de julho
de 1722, em Goiás (atual) a busca pelo ouro e pedras preciosas, alucina os
homens gananciosos, ávidos em fazer fortuna...
Era um dia frio e úmido na
fazenda do Sr. Antônio José Taborda da Silva... ele iria a uma excursão em
busca de riquezas e levaria dois escravos, um casal, homem forte e uma mulher,
os três filhinhos dos escravos ficariam órfãos de pais vivos... seus pais
tinham os corações estrangulados pela dor.
Manoel, o escravo, suplicou
ao amo, que a companheira ficasse e ele trabalharia em dobro; era jovem e sadio
para suportar a excursão, mas a esposa...
O senhor, muito orgulhoso e
frio, irritou-se pela ousadia do escravo; manda supliciá-lo, ordena que Manuel
receba chibatadas por desobediência.
Ato continuo, Ricardo, em
transe, começa a assumir a personalidade arquivada no passado, com todas as
suas imperfeições. Exibia, agora, um aspecto dominador e apaixonado.
Bezerra sugeriu: “Não ouves,
Sr. Antônio José, os lamentos e blasfêmias do seviciado?” Dor e mágoa não te
sensibilizaram...
A companheira suplica pela
vida de Manuel, ajoelhada aos pés de Antônio José, roga misericórdia e
compaixão.
Ricardo denota desconforto
ante as lembranças e diz: “Eu tenho direito sobre suas vidas. Comprei-as.
Escravo não é gente...”
O Benfeitor afirma que ele
está equivocado, somos todos filhos de Deus, em igualdade de condições. A
escravidão é um processo nefasto e os que a promovem responderão as Leis.
Antônio José tinha uma
obsessão pela escrava e queria submete-la aos seus caprichos masculinos; a
jovem percebendo a situação o evitava, mas com o esposo a morrer, desesperada,
suplica por misericórdia ao senhor dos escravos e ele tenta subjuga-la aos seus
prazeres inferiores.
Antônio José desencadeou uma
longa tragédia que se arrastava por muitos e muitos anos, até aquele momento.
“A
tua escrava, ali se encontrava sob a imposição de um resgate imperioso, cuja
dívida adquirida na civilizada e preconceituosa Inglaterra, de anos antes...
Renascera em terras da África, programada pela Consciência Divina, para
recuperar-se, no Brasil Colônia, na condição de apátrida, sem direitos,
aprendendo a amar a carne alheia ao lado da sua, sofrendo
para sublimar-se.”
“A tua insânia precipitou-lhe o crescimento, enquanto te
afundaste no fosso da delinquência.”
“Surpreendido
pela tua senhora, desconsiderada, face aos teus desmandos, mais se abriu o
abismo entre ti e ela.”
Maria Joaquina era esposa de
Antônio José, nunca esqueceu as ofensas e humilhações, repletas de dores
silenciosas que permaneceriam por séculos...
Joana dos Santos, a escrava,
retornou a senzala e aguardou apavorada o nascer do dia... o marido morreu
exposto ao tempo, pelos excessos da surra com a chibata.
Antônio José não se comoveu
com a tragédia, pensava somente na viagem e que levaria Joana consigo, para
satisfazer seus desejos.
Porém, o destino traz sempre
surpresas: Joana enlouquece por conta da dor, do medo, do sofrimento... Maria
Joaquina, se apieda da vítima e a socorre com a sua compaixão, que se converte
em CARIDADE.
Passados 150 anos,
estavam rememorando agora, o ano de 1872, aquele grupo reencarna na Terra. Manuel,
o escravo que sucumbiu pelos maus tratos de Antônio José/Ricardo, agora era seu
irmão, com a finalidade de que o amor entre irmãos vencesse os sentimentos
inferiores que ambos guardavam na alma.
Maria Joaquina,
agora seria a “pretendida” do irmão –intimamente ambos se
detestavam - de Ricardo. Ao revê-la, a consciência culpada impôs-lhe a
necessidade de recupera-la; mas a vítima do passado, Joaquina, não correspondeu
ao seu afeto.
O irmão era o obstáculo
entre ele e a sua diva e planejava tirar aquele obstáculo do caminho!
Ricardo tenta se defender...
Bezerra diz que novamente ele falseia a verdade e interfere nas Leis:
“O
ex - escravo reencarnara para abençoar a protetora de sua viúva antes
desvairada, que ora retornou na condição de mãe de Maria Joaquina, que já se
lhe vinculava desde muito antes.”
Bezerra de Menezes esclarece
que esse grupo de espíritos estão vinculados e reencarnam juntos há muitos
séculos... “Os laços que atam os Espíritos uns aos
outros, não se rompem com facilidade, seja na animosidade ou no afeto. Enquanto
não luz o amor, pairando soberano, o círculo das reencarnações se estreita em
torno dos que se interdependem para evolver.”
Ricardo organizou uma caçada
e a vítima escolhida era o irmão!
O irmão fora perfurado por
uma carga de chumbo e, antes de morrer jurou vingança. Foi
nesse estado de ódio que caiu no processo que agora se encontra, os sentimentos
de vingança enlouqueceram-no, vencido pela fúria tombou numa região de profundo
desespero, num abismo, sentiu-se como um animal... “Ei-lo diante de ti...
Fita-o!” disse Bezerra!
“Esse
animal é o nosso pobre irmão, a quem, por duas vezes seguidas, roubaste a vida
física...”
Ricardo fica chocado com as
revelações psíquicas do século XIX, o horror substituiu a máscara de ira e
desprezo!
QUEM É A
VÍTIMA E QUEM É O ALGOZ?
Bezerra avança no tempo...
Lavínia/Maria Joaquina se casa com Ricardo, apesar da aversão da mãe de Lavínia/Joana
dos Santos, pelo noivo.
O casamento fora um
fracasso, ela jamais o amou... Alfredo, o irmão, ainda era presente na memória
da jovem; ele tinha ciúmes e, embriagado confessou à esposa que matara o seu
antigo preterido.
Lavínia não superou aquela
traição, sobrepôs o perdão a profunda mágoa e, sintonizou-se com Alfredo
desencarnado, iniciava-se o pensamento de vingança.
Numa noite, Ricardo dormia
completamente entorpecido pelo excesso de álcool; Lavínia, semidominada por
Alfredo, o asfixia com uma almofada de plumas, aplicada em seu rosto.
Não houve
testemunhas, senão a consciência de ambos e da Entidades desencarnadas naquele
momento. (NADA FICA IMPUNE NA NOSSA VIDA!)
Julinda, que experimentava,
também, a indução hipnótica, começa a gritar que odeia Ricardo e que o mataria
mil vezes!!! Afirma que ele sempre a desgraçou e não o teria como filho em seu
ventre!
A jovem estava transtornada!
Alfredo debatia-se no
médium!
Angélica, assumindo o
psiquismo da mãe de Lavínia, abraça a filha daquelas duas últimas encarnações.
Bezerra controla a situação
e fala a Julinda que o ex-esposo precisa recomeçar, mas só o amor de mãe e o
sentimento de filho poderão modificar os sentimentos de ambos, nessa situação
que dura anos, sem necessidade.
Os dois se
infelicitaram, mas a JUSTIÇA sempre se realiza, não conforme nossos planos;
faz-se necessário que alguém perdoe para quebrar o ciclo vicioso das
imperfeições e ocorra o recomeço da marcha do progresso, na busca da paz.
Bezerra diz que ela é amada
por Roberto, que caminha com ela em longas existências planetárias, veio para
socorre-la. Dona Angélica a amparou como mãe nas duas últimas encarnações,
porque ela também a amparou quando fora escrava enlouquecida.
O senhor Juvêncio, que
acompanhava Joana dos Santos/Angélica, na sua redenção, por gratidão ao carinho
que deu a escrava, tomou-lhe como filha.
“Este
é o momento de todos nós. O Senhor faculta-nos a hora de iluminação.
Aproveitamo-la.”
Julinda modificou seus
sentimentos, da revolta para as lágrimas, informando que tinha medo da
responsabilidade de ser mãe de Ricardo.
Bezerra diz que a proteção
Divina nunca falha, que ela confie!
“Ricardo
deverá voltar, a fim de que todos se libertem do mal que os vem vitimando.”
Concede-lhe redenção para
obter a benção da paz!
O Mentor diz que o gesto
dela também auxiliará Alfredo: “O amor é luz que suplanta toda sombra, e
medicamento para todos os males.”
As palavras de Bezerra
penetravam na alma de Julinda, a jovem sentia o amor do Benfeitor envolvendo-a
em doces vibrações.
No entanto, ela não podia
nem devia ver Alfredo, na situação em que se encontrava. Ela pergunta por ele,
Bezerra diz apenas que ele está com o grupo, porém enfermo, e que também
necessita recomeçar através da reencarnação.
“Temos
pensado que ele deverá volver através de ti e de Roberto, na condição de irmão
de Ricardo para que, sob a tua, a ternura do esposo e a de D. Angélica todos
cresçam para o bem...”
“O Senhor espera muito por ti... Sabemos que não é uma empresa fácil
para o teu coração. Todavia, estes não têm sido dias de paz, senão de infinitas
amarguras e receios, quando te encontras nas fronteiras da loucura...”
Angélica compreende o olhar
de Bezerra e diz a filha: “Ajuda-os como me auxiliaste um dia. Socorrendo-me,
no desvario em que me encontrava, proporcionando-me a libertação de velhas
dívidas que cometêramos antes. A pobre Joana dos Santos, escrava e doente,
recebeu de teu coração amor e piedade, que não podes recusar ao Sr. Antônio
José, o algoz, nem a Manuel, o escravo que me foi companheiro, e agora os
desejo para netos... Seremos uma família feliz.”
Roberto emocionado abraça
Julinda e pede que ela aceite, pois o lar ficaria mais risonho e feliz, ele
queria ter a felicidade de ser pai.
A emoção domina todos e
Julinda aceita a benção da maternidade, mas pede a Jesus e Dr. Bezerra que não
a abandonem!
Foram aplicados passes
renovadores e a enferma voltou a dormir.
A psicosfera do ambiente era
de paz, uma enorme vibração de amor que procedia da Esfera Mais Alta, todos
receberam essa energia.
Ricardo silencioso meditava,
Manuel acalmara-se, através de seus olhos brilhantes, encharcados pelas
lágrimas, percebia-se seu entendimento e lucidez a respeito do que se passara.
Porém, a tarefa ainda não
estava concluída.
(*) Os Falcões são
um grupo de Entidades perversas, que trabalham mediante hipnose profunda,
agindo nos centros perispiríticos, de modo a completar os fenômenos de
zoantropia psíquica dos que lhes caem nas garras, vitimados pelo ódio.
Constituem uma organização que se dedica à prática do mal, usurpando os códigos
da Justiça, de que se dizem instrumentos, vampirizando as energias das suas
vítimas, enquanto essas o fazem dos seus desafetos... Demoram-se em Regiões do
infinito sofrimento onde, não obstante sem que o queiram, a luz da misericórdia
do amor, qual ocorrera com o paciente ali em comunicação, resgatado por
diligentes especialistas nesse tipo de socorro, vinculados ao trabalho do
incansável Dr. Bezerra de Menezes. (Nota do Autor Espiritual)