Semeador, despertaste aos clarões da aurora e começaste a semear...
A dura lavra exigia suor e, dia sobre dia, arroteaste o solo, calejando as mãos, entre o orvalho da manhã e a luz das estrelas.
Diante do sacrifício, os mais amados largaram-te a convivência, sequiosos de reconforto...mas quando te viste a sós, sem que ninguém te quisesse as palavras, a natureza conversou contigo, em nome do Céu, e escutaste, surpreendido, as orações da semente, no instante de morrer abandonada para ser fiel à vida; ouviste as confidencias das roseiras, escravizadas na gleba, cujas flores brilham nos salões, sem que lhes seja dado outro direito que não aquele de respirar, entre rudes espinhos; recolheste a história do trigo que te contou, ainda nos cachos de ouro, como seria triturado nos dentes agudos de implacáveis moinhos, a fim de servir na casa dos homens; e velhas árvores lascadas e sofredoras te fizeram sentir que Deus lhes havia ensinado, em silêncio, a proteger carinhosamente, as próprias mãos criminosas que lhes decepam os ramos...
Consolado e feliz, trabalhaste, semeador!
Um dia, porém, o campo surgiu engalanado de perfume e beleza e apareceram aqueles que te exigiram a colheita para a festa do mundo...
Choraste na separação das plantas queridas, entretanto, ninguém te viu as lágrimas escondidas entre as rugas do rosto...
Eras sozinho, perante as multidões que te disputavam os frutos e por não haver adestrado verbo primoroso de modo a defender-te, diante das assembleias, e porque a tua presença simples não oferecesse qualquer perspectiva de encanto social, os raros amigos de tua causa julgaram prudentes silenciar, envergonhados do rigor de tuas ásperas disciplinas e da pobreza de tua veste, mas Deus te impeliu a renovação e, conquanto despojado de teus bens mais humildes, procuraste outros climas e outras leiras, onde as tuas mãos quebrantadas e doloridas continuaram a semear...
Semeador dos terrenos do espírito, que te encaneceste na lavoura da luz, qual acontece ao cultivador paciente do solo, não te aflijas, nem desanimes.
Se tempestades sempre novas te vergastam a alma, continua semeando...e, se banimentos e solidão devem constituir a herança transitória do teu destino, recorda o Divino Semeador que, embora piedoso e justo, preferiu a cruz por amor à verdade e prossegue semeando, mesmo assim, na certeza que Deus te basta, porque tudo passa no mundo, menos Deus.
Do livro "Ideal Espírita", pelo Espírito Meimei, Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
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